Mensagens

A mostrar mensagens de 2008

O INVERNO E O NATAL

O frio regressava mais uma vez às terras divididas por caminhos com penedos revestidos de musgo. As crianças este ano iriam ter musgo suficiente para fazer o presépio. Este era colocado todos os anos em lugar de destaque na casa de Artur. Os valores simbolizados ainda eram abraçados por Artur e pela sua família.

O FOGO

- Há fogo!Há fogo!-Gritava o Micas. - Mas onde?- Perguntou Artur. - Não está muito longe da tua casa!- Respondeu o empregado da Junta. Artur sai como uma flecha em direcção ao seu lar. No ar, ouvia-se o repenicar do sino que chamava toda a aldeia a acudir o seu próximo. À mediada que se aproximava de sua casa, via-se uma espectáculo de luz. Toda a população corria. Uns levavam umas enxadas; outros uns ancinhos, outros uma pá; outros procuravam o simples ramo que serviria de arma contra este inimigo horrífico. De facto, a casa de Artur perigava. Os seus petizes choravam agarrados um ao outros, pois a mãe, Florinda, procurava colocar a salvo os seus haveres. Apesar da luta, o vento tornou-se aleado do fogo e num ápice invadiu o lar que tantas recordações trazia àquele família humilde, mas vertical nos seus ideais. Sentia-se em Artur um misto de dor e de revolta.

O BAILARICO

No largo das duas carvalhas que fazia ligação à capela de Santa Apolónia, realizava-se o bailarico. O conjunto "Pop Five" dava os primeiros acordes e logo o o Sr. Francisco e a D. Rosalina abriam o baile. Este era um casal já perto dos 70 anos mas que nos bailaricos faziam ver aos mais novos. O bar há muito que se encontrava aberto para saciar a sede aos forasteiros e não só. O Aventoínha, alcunho dado pelo povo pelo facto deste, quando com um copito bailar sempre à roda de si mesmo. Solteirão inverterbado, matava a solidão com um, melhor muitos copos de vinho, o que fazia com que o seu aspecto parecesse um homem de 60 anos. Fruto de um amor não correspondido, passou ter por companhia o alcool. Os emigrante conversavam das suas aventuras em terras distantes.

O SERMÃO

As senhoras da igreja orientavam os andores, dentro da geografia da igreja. O Pe. Jorge, suado como se estivera a cavar uma leira de terra, dirigia-se rapidamente para o altar, onde o esperava o Pe. Isidoro, o pregador da festa. Nas alas do altar, lá se encontrava estrategicamente colocado, o Sr. Bernardino, bem penteado, com o fato de festa, riscado por uma gravata. O povo colocara-se nos locais hierarquicamente correctos: os homens à frente e as mulheres atrás. Eis pois a estratificação social: Clero e poder político de mãos dadas, homens e mulheres do povo. Após os ritos iniciais e as leituras, eis o tão esperado sermão do P. Isidoro. Este era de tamanho mediano, muito branco de pele, com o cabelo rareando na cabeça. O seu tom de voz fazia calar a assembleia e concentrava os fiéis para as palavras. O seu vocabulário demasiado sensacionalista, fazia com que as beatas começassema tirar das ricas malas pretas os lenços brancos escolhidos especialmente para esta ocasião. Após a a missa,

A FESTA

Finalmente chegara a festa em honra de Santa Apolónia. Na pretérita semana, as ruas foram limpas pelos dois trabalhadores da junta que nestas altura tentam mostrar serviço para justificar a sua necessidade. O Pe. Jorge convidara o Pe. Ramiro. Este era conhecido nas redondezas por fazer chorar as velhas. Os andores, mais uma vez, encontravam-se recheados de notas, resultado das promessas feitas pelo povo em desespero de vida. Os foguetes matinais sinalizavam o início da festa. O latir dos cães respondiam ao tiroteio. O Toninho tocava no alto da torre a primeira. o Sr.Bernardino ordenara aos Micas que fosse esperar a banda de Música de Vila Nova. A manhã era pois sonorizada, visualizando-se, aos poucos, o povo a sair das tocas com as fatiotas novas. A procissão começava da capela em direcção à igreja onde havia "missa cantada". À frente seguia a cruz, ladeada pelas duas lanternas. Os homens, à frente, organizados, faziam duas filas. A seguir, vinham os andores. Santo António, s

A REFEIÇÃO

Florinda esperava o seu esposo junto à soleira da porta. Lá dentro, a mesa estava posta. Fora António quem colocara, como num puzzle os vários utensílios para a refeição. A cozinha era pequena.Todavia, ainda era possível colocar uma mesa com quatro cadeira, sempre obseravados pela lareira que ansiava que chegasse o Inverno para partilhar o seu calor com os seus patrões. António e Rosita, sua irmã, brincavam às escondidads de modo a que o tempo trouxesse rapidamente o seu progenitor. -Olá, amorzito!- saudou ternamente a sua Florinda. -Estava a ver que hoje não querias jantar connosco!- brincou Florinda. -Sabes, como é conversa puxa conversa e tempo vai passando sem darmos conta. Após algumas palavras ternurentas para com os seus filhos, sentou-se e o seu olhar denunciava alguma distância. -Parece que não estás cá!- Disse a mulher um pouco apreensiva. -Não é nada. -Eu conheço-te bem. Mais tarde ou mais cedo sei que vais desabafar! A refeição decorreu normalmente e, no final, António ped

ARTUR PENSATIVO

Estava na hora de regressar a casa. Artur amava a sua família. Com a sua esposa grávida, receava que acontecesse alguma coisa. Assim, o tempo que gostaria de estar com os amigos vai sendo reduzido. O desafio feito, provocou insónias em Artur. A sua família era importante mas ele poderia contribuir também para servir a sua aldeia como Presidente da Junta.

QUEM NÃO SE ARRISCA A UMA DERROTA JAMAIS ALCANÇARÁ UMA VITÓRIA

Entretanto, na rua principal, junto ao pelourinho, documento vivo da importância que a aldeia tivera em tempos idos, encontrava-se a tasca do Tio Zé. Era um local com um grande balcão em madeira, coberto por uma tira de mármore. As mesas em feitio de um pipo, tornavam aquele espaço romântico, ou melhor, pré-romântico. Raro era o dia em que não havia um joguito de sueca. Por vezes, o jogo era de tal modo vivido e complementado pelos copos, que chegava a haver pancadaria entre os ilustres jogadores. Naquela noite, encontrava-se Artur a conversar com João Carlos. Os temas das conversas eram sobre futebol, política e as novidades que entretanto iam surgindo na aldeia. O aproximar das eleições, tornava o tema das autárquicas de uma actualidade extrema. A determinada altura diz o Artur: -Quase nem era necessário haver eleições. Já todos sabem quem vai ganhar. - Infelizmente, falta gente de coragem para enfrentar o poder instalado. - Em França, verifica-se uma rotação nos executivos do pode

PREPARAÇÃO DA FESTA

A festa da aldeia realizava-se todos os anos em Agosto. Neste ano, o poder local rapidamente se disponibilizou para liderar este evento. As boas relações entre poder e igreja permitiam um casamento feliz que fazia com que não se distinguisse muito bem o ensinamento que Cristo trouxera à terra. "A Deus o que é de Deus e a César o que é de César". O Sr. Bernardino liderava a Junta há 20 anos. O tacto político que verdadeiramente possuía, tornavam-no respeitado porque temido. Na sua vida profissional não triunfara. Possuía um pequena empresa de cimento que rapidamente foi à falência. A sua prima do coração era uma assídua da igreja. Por isso, funcionava um pouco como a assessora para os assuntos religiosos. Na verdade, a sua função era demasiado importante para a permanência no poder. A reunião era no cartório do Sr. Padre Jorge. - Boa noite, Sr. Abade!- saudou o Presidente da Junta. - Ora viva! Com vai o governo da nação, melhor, da freguesia? - Muito trabalho! Para se contenta

HUMANIDADE E ESPIRITUALIDADE

Ao subir as íngremes encostas, encontrava outros a quem saudava com um "Bom dia!" que era retribuído, pelos mais velhos, com um "Venha com Deus!". De facto, o Deus da alegria para quem o sofrimento não era a razão definitiva de viver, era experienciado por Artur. Artur nascera em berço de prata, isto é, era filho do Sr. Manuel e da Sra. Ana que se esforçaram por dar ao seu educando uma formação primeiramente humana, recheada pelos valores que Jesus Cristo trouxera à terra: amor, verdade, liberdade, solidariedade. Primeiramente a Humanidade e depois a espiritualidade, a religião. Estes eram os princípios básicos que ele considerava na formação integral do ser humano. Numa Terra onde o Pe. Jorge pregava uma religião de um Deus que castiga, que considerava prioritário a ida à missa, secundada por uma ajuda ao próximo, trazia alguns conflitos com a mentalidade da maior parte dos seus conterrâneos que colocavam o voz do padre em primeiro lugar e detrimento das palavras h

A tiragem das batatas

A Cruzinha, naquela manhã, mais parecia a festa do do campo. Os rouxinóis eram os solistas de uma orquestra composta por pássaros de várias espécies. Artur levantava as sachola e como que por milagre, fazia surgir 5 ricas batatas vermelhas. Houvera muita água no poço. Saciada a sede , a força era revigorada e transformada em grande e belas batatas. Florinda lá ia apanhando e distribuindo-as pelos vários baldes, de acordo com o tamanho. - Não te esforces muito!- aconselhava Artur. Florinda estava grávida de três meses. Todavia, nem isso a impedia de ajudar o marido nas lides do campo. A meio da manhã, surgia António. O pai dissera-lhe para vir mais tarde de modo ajudar sua mãe. Passadas algumas horas, suados devido ao sol que entretanto já ia alto, estavam ensacadas as batatas. O burrito era preparado e com uma técnica de cordas, lá colocava as sacas pesadas.

AMANHECER NA ALDEIA

Amanhecia na aldeia. Pestana após pestana a menina do olho do sol visitava novamente a aldeia. Mais um dia tórrido chegara. Por isso, a labuta na terra começava muito cedo. Os burritos dirigiam-se para as propriedades, acompanhados pelos donos e pelo melhor amigo destes. Os picanços eram içados vigorosamente pelos braços dos homens. As mulheres, com as saias arregaçadas indicavam o caminho ao líquido que iria refrescar a terra e saciar a sede à preciosa flora . O som dos motores de rega reflectiam o poder económico do proprietário.

O SACRAMENTO DA ORDEM

A lição de catequese naquele dia era sobre os sacramentos. Quando o Sr. Abade referenciou o sacramento da "ordem", suscitou nos catraios algo de não muito aprazível. Todavia, fora este o sacramento que o locutor mais evidenciava. O céu estaria garantido a quem seguisse o caminho do sacerdócio. Este sobrepunha-se a toda e qualquer outra vocação. António, que tinha o coração na boca, colocava a questão sempre eterna: - Sr. Abade, porque é que os padres não podem casar? O abade não esperava esta questão, num petiz daquel idade, por isso, com uma certa dificuldade lá foi respondendo: - Os padres estão acima de tudo! Não há melhor vocação do que esta. A resposta não convencera António. O seu pai casara e aquela era a vocação mais bonita. O seu pai era o seu herói com quem podia partilhar as aventuras de uma infância que ele considerava feliz na companhia da sua mãe e da sua irmã.

O SR. ABADE

A aldeia, observada pelas altas montanhas, transmitia tranquilidade e paz. Uma paz podre diriam alguns. O Pe. Jorge tinha por missão ser o transmissor daquela. Todavia, as suas opções políticas tornavam essa tarefa demasiado impossível. O sr. Abade, conforme era tratado pelos filhos de Deus na terra, era de estatura mediana, com umas bochechas e uma barriga demonstradoras de que um bom petisco e um bom vinho eram amantes permitidos e frequentes. No adro da Igreja, as crianças esperavam-no, pois aproximavam-se as festas da primeira comunhão e da comunhão solene. O filho do Sr. Alípio Lopes estava entre aqueles que iria "receber o Senhor" pela primeira vez. As suas propriedades, a sua influência política e o facto de ter a estudar em Coimbra as duas filhas mais velhas, tornavam-no temido pelo povo e pelo próprio pastor da freguesia. - Boa tarde, Sr. Abade.-Ouviu-se em uníssono a criançada. - Já deviam era estar dentro da igreja, acompanhados pelas vossas catequistas.- respondeu

Reencontro

Em Agosto, junto ao rio, a sonoridade da língua materna mistura-se com a língua irmã, o francês. Eram os emigrantes que regressavam à terra pátria e se refrescavam nas águas do rio da sua aldeia. Artur deu o seu mergulho. Nadou por entre o arvaredo que entretanto pairava sobre as águas. Um adolescente demonstrava as suas habilidades de nadador, perante as ninfas que regressavam todos os Verões à terra de pedras e penedos. Ao sair da água, Artur, ainda ausente do mundo, ouviu uma voz familiar: - Com que então queres voltar a ter 15 anos! Era o Ricardo, amigo de infância e que emigrara para França, pois o ordenado não lhe permitia fazer vida na sua terra. - És tu, Ricardo? Os ares da Gália estão a fazer-te bem!- Disse Artur, estendendo a mão ao seu amigo . - Trabalho muito, mas sou recompensado por uma liberdade interior e exterior que me permite ter este ar de quem não deve nada a ninguém. Durante mais de uma hora, acompanhados de várias "minis"recordaram os seus tempos de inf

INÍCIO

Um espaço fictício que não esconde as sensações bebidas por quem vive numa terra onde os penedos, metaforicamente falando, impedem o desenvovimento, o progresso de uma terra e a felicidade genuína das gentes locais.

ESPAÇO DE CRUZAMENTO ENTRE O REAL E O FICTÍCIO

O sentir e o viver de um povo, reflectido e materializado numa obra que se pretenderá literária. Este será o meu espaço de cruzamento entre o real e o fictício, na certeza de que há valores, sentimentos que se exprienciam que podem e devem ser levados para o mundo da ficção. Numa "obra" que pretendo que seja a visualisação de um mundo obscuro que não se desenvolve nem é feliz porque ainda vive muito voltado para si mesmo. São esses os penedos que impedem a felicidade e o desenvolvimento de uma região.