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A mostrar mensagens de julho, 2012

Em busca das pérolas negras III

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Entretanto, a noite aproximava-se. Os braços, maquinalmente, atiravam a preta azeitona que aterrava nos toldes de pano amarelado. A piqueta e a merenda, onde não faltavam as batatas albardadas e o vinho “do nosso”, iam fornecendo o doping tão necessário para o exercício de tal tarefa. A folha das oliveiras ficava para trás. Era um ritual realizado sempre ao fim de cada dia: "erguer a azeitona". Os petizes agarravam na ponta dos toldes, de modo a que não caísse nenhuma fora dos mesmos, aquando do lanço de subida. Naquela pequena planície da encosta, os toldes pareciam um grande lago negro. A meio, o Joaquim servia o copo de vinho, que inspirava muitos nas cantigas que entretanto povoavam aquelas serras: "O meu pai é Manuel Cuco...", "Ó oliveira da Serra...", "Ó malmequer mentiroso...", etc. As mulheres, após apanha das pérolas e da "escolha" da rama, ajudavam a colocar o fruto do trabalho nas sacas que os homens colocavam com sa

Em busca das pérola negras II

Artur era sempre o primeiro a subir às oliveiras mais altas, arriscando, por vezes, uma queda em busca de meia dúzia de azeitonas. Artur era um homem que embora tivesse,somente 20 anos, aparentava uma maturidade maior, a que a vida o obrigara. Desde criança que conhecia aquele ritual anual. Tinha estudado até ao segundo ano, no colégio da vila. A necessidade não permitiu que continuasse os estudos. Oriundo de uma família remediada, desde muito cedo teve consciência que tinha que sustentar a casa, pois seu pai falecera lá longe, em África, para onde se foram na ânsia de poder dar uma vida melhor àqueles que tanto amava, a mulher e os seus três filhos. Assim, muito cedo se tornou o homem da casa que, juntamente com sua mãe ajudou a criar os seus irmãos mais novos, Manuel e Teresa. As adversidades da vida foram-no tornando mais sábio e mais forte. Após algum saber livresco, a vida dera-lhe até ao momento a outra formação.

Em busca das pérolas negras I

O sol de Inverno levantava-se lentamente no horizonte. O frio invadia a encosta. O rancho de homens e mulheres fazia os preparativos em casa do Sr. Alípio para dar início a mais um ano de colheita da azeitona. Os burros eram prendados com os toldes que acolheriam a azeitona, torturada pelas varas dos homens que arriscavam a vida lá no alto das oliveiras que nesta região estavam mais próximas do criador.. Os petizes ficavam a dormir. Chegariam mais tarde, quando o sol esquentasse, e permitisse brincar à "apanha dos berlindes negros". O mata bicho, um copo de aguardente e um naco de pão serviam de estimulante para a dura tarefa que os esperava. As mulheres bebiam o seu café feito à lareira numas malgas para onde farelavam o pão cozido já há algum tempo. Os cestos para a apanha da azeitona iam de mão dada com as mulheres e moças solteiras. Para estas, poderia ser a oportunidade de arranjar marido, no meio das cantorias que serviam de bálsamo para ajudar a fazer esquecer às mã