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SETEMBRO

Setembro aproximava-se. Com ele, vislumbrava-se já o quadro negro, o giz branco, a secretária da senhora professora e o Cristo crucificado.As férias estavam prestes a terminar. A rotina da escola era quase uma realidade. A passagem pela tasca do "Ti Zé" para comer o paposeco com molho das iscas, era um dos lados bons deste mês. Para António, era também o tempo da "caça" aos tralhões que nesta época abundavam nas serras e vales da sua terra. As oliveira e árvores de frutos recebiam estas pequenas aves que nesta época davam mais vida a uma terra com cada vez menos vidas. A festa da sua aldeia, que trazia muitos lisboetas à sua aldeia, tornando-a ainda mais rica, realizava-se, igualmente, neste mês. Nem tudo era mau! O fim das férias trazia também consigo a concretização de pequenos sonhos e o abraçar de novos desafios.

"OS LIMITES DO MEU MUNDO SÃO OS LIMITES DA MINHA LINGUAGEM"

A escola nem sempre fora o local preferido de António. As árvores e os cheiros da natureza provocaram-lhe sempre um fascínio primordial. A mãe terra era a cátedra da vida. A arte na sua plenitude era oferecida pela mãe natureza. O quadro de um ribeiro que sussurra ao melro com a sua límpida água fazia inveja ao pintor mais famoso. Os grilos acompanhavam a passarada como se de  uma orquestra se tratasse.  A linguagem da natureza era uma linguagem artística. António só não vislumbrava a arte da escrita. De facto, esta forma sublime de comunicar só a poderia conhecer na escola. Agora compreendia que os limites do mundo de cada um dependem dos limites da((s) linguagem(ns) que se adquirem.

A PRIMAVERA A SORRIR

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Era o mês de Maio que chegava com todo o seu fulgor. Toda a energia telúrica milagrosamente presenteava os humanos com belíssimos ramos de múltiplas cores. A cor amarela e branca destacava-se no meio desses montes, há muito ignorados pelos humanos. As terras agrícolas tornam-se negras e servem de sepultura ao inocente grão de trigo. Os grilos saem das suas tocas e das suas asas surge a cantiga inconfundível. Os corações batem mais forte. Na grande cidade, os amantes recordavam com saudade esse quadro único mas incompleto. Faltava o penedo onde se deviam sentar aqueles dois corações que lá longe sonham um dia regressar.

UMA CORRENTE DE ÁGUA CRISTALINA

Os olhos negros de Ana eram o espelho da alma cada vez mais preenchida pela decisão tomada. A grande cidades trazia uma luz maravilhosa. Carlos conhecia a grande cidade. Percorrera há algum tempo aquelas ruas e ruelas onde o cruzamento de raças, sons e olhares a tornavam "cidade multicultural". Agora, a companhia de Ana tornavam aquele local ainda mais vivo e pleno de significado. A pequena aldeia ficara para trás. A liberdade era uma realidade. Não uma liberdade qualquer. Somente esta, levaria de certeza à infelicidade. O risco da aventura deveria merecer uma felicidade sólida, construída sobre as rochas. Por isso, a responsabilidade e cumplicidade faziam parte deste relacionamento que colocava em causa a lei que vigorava na aldeia: "Menina rica enamora-se com Homem rico".  A "felicidade" forçada não podia continuar a vigorar! O exemplo e a coragem de Ana e Carlos, murmurada por alguns, era glorificada e admirada por outros. As águas paradas que não movia