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A mostrar mensagens de dezembro, 2009

O NATAL NA ALDEIA

Na aldeia, o vento gélido beijava ternamente a torre da igreja. Lá fora, as luzes brilhavam mais que nunca. O sacristão já tocara para a missa do galo. Os "lisboetas" deliciavam-se com as filhós amassadas pelas mãos duras e calejadas das gentes da serra. O Sr. Padre viera consoar a casa do Sr. Alípio. Aqui não faltava nada. O desejo de agradar ao prior fizera com que o orçamento para esta época aumentasse. O pão-de-ló, oriúndo da cidade vizinha, era o símbolo da riqueza em terras cujas suas gentes viviam com o "pão nosso de cada dia". Na casa da Sra. Alice, a sopa de natal, tida para os ricos como a "vianda do povo", deliciava os pequenos e graúdos. No silêncio da noite, a solidão fazia-se ouvir pela voz do "Aventoinha".Naquela noite, até os corações de pedra se tornavam em corações de carne. O Deus dos mais fracos e dos infelizes fazia-se ouvir na voz rouca daqueles que ao longo do ano vivem sem amor. O acto de amar ainda é visto com estranheza

"Uma pequena lágrima fez-lhe um visita pela janela do coração"

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A vida dura era compensada não só economicamente mas, essencialmente, por uma grande liberdade interior. O reverso da medalha também o acompanhava, as saudades dos seus e da terra povoada de penedos, Na fábrica de componentes para automóveis, era estimado e respeitado por todos. O seu carácter solidário rapidamente fazia atrair os corações mais duros na terra da liberdade e da democracia. O Natal aproximava-se. Este ano não poderia estar na sua terra e no seu lar. Iria passá-lo na companhia de outros que, como ele, andam lá fora a lutar pela vida. - Anima-te, Artur! O bacalhau e as couves regados com o bom vinho lá da terra não irá falta! - Eu sei, Carlos! Vai faltar-me o o rebuliço dos meus filhotes e a história de Natal que eu todos os anos, à volta da lareira lhes contavam. Uma pequena lágrima fez-lhe uma visita pela janela do coração.