O NATAL NA ALDEIA

Na aldeia, o vento gélido beijava ternamente a torre da igreja. Lá fora, as luzes brilhavam mais que nunca. O sacristão já tocara para a missa do galo. Os "lisboetas" deliciavam-se com as filhós amassadas pelas mãos duras e calejadas das gentes da serra. O Sr. Padre viera consoar a casa do Sr. Alípio. Aqui não faltava nada. O desejo de agradar ao prior fizera com que o orçamento para esta época aumentasse. O pão-de-ló, oriúndo da cidade vizinha, era o símbolo da riqueza em terras cujas suas gentes viviam com o "pão nosso de cada dia".
Na casa da Sra. Alice, a sopa de natal, tida para os ricos como a "vianda do povo", deliciava os pequenos e graúdos.
No silêncio da noite, a solidão fazia-se ouvir pela voz do "Aventoinha".Naquela noite, até os corações de pedra se tornavam em corações de carne. O Deus dos mais fracos e dos infelizes fazia-se ouvir na voz rouca daqueles que ao longo do ano vivem sem amor. O acto de amar ainda é visto com estranheza. O amor, nestas terras, era coisa dos fracos.

Comentários

Alvagada disse…
Que saudades desses Natais nas nossas aldeias da Serra ! Perduram na nossa memória...vencendo o tempo e a distância.

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