Em busca das pérolas negras III

Entretanto, a noite aproximava-se. Os braços, maquinalmente, atiravam a preta azeitona que aterrava nos toldes de pano amarelado. A piqueta e a merenda, onde não faltavam as batatas albardadas e o vinho “do nosso”, iam fornecendo o doping tão necessário para o exercício de tal tarefa. A folha das oliveiras ficava para trás. Era um ritual realizado sempre ao fim de cada dia: "erguer a azeitona". Os petizes agarravam na ponta dos toldes, de modo a que não caísse nenhuma fora dos mesmos, aquando do lanço de subida. Naquela pequena planície da encosta, os toldes pareciam um grande lago negro. A meio, o Joaquim servia o copo de vinho, que inspirava muitos nas cantigas que entretanto povoavam aquelas serras: "O meu pai é Manuel Cuco...", "Ó oliveira da Serra...", "Ó malmequer mentiroso...", etc.
As mulheres, após apanha das pérolas e da "escolha" da rama, ajudavam a colocar o fruto do trabalho nas sacas que os homens colocavam com saber experiencial na albarda dos transportadores de quatro patas, os burros.

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