O SR. ABADE

A aldeia, observada pelas altas montanhas, transmitia tranquilidade e paz. Uma paz podre diriam alguns. O Pe. Jorge tinha por missão ser o transmissor daquela. Todavia, as suas opções políticas tornavam essa tarefa demasiado impossível. O sr. Abade, conforme era tratado pelos filhos de Deus na terra, era de estatura mediana, com umas bochechas e uma barriga demonstradoras de que um bom petisco e um bom vinho eram amantes permitidos e frequentes. No adro da Igreja, as crianças esperavam-no, pois aproximavam-se as festas da primeira comunhão e da comunhão solene. O filho do Sr. Alípio Lopes estava entre aqueles que iria "receber o Senhor" pela primeira vez. As suas propriedades, a sua influência política e o facto de ter a estudar em Coimbra as duas filhas mais velhas, tornavam-no temido pelo povo e pelo próprio pastor da freguesia.
- Boa tarde, Sr. Abade.-Ouviu-se em uníssono a criançada.
- Já deviam era estar dentro da igreja, acompanhados pelas vossas catequistas.- respondeu o mal humorado abade.
- Mas, Sr. Abade, a catequese é só às seis. Ainda faltam cinco minutos!- disse o António.
- Já fez a visita ao SS. sacramento? Cale-se! És o teu pai em miniatura.
O pai do António era Artur, o amante do rio.
Este temperamento para com as crianças era diferente quando se tratava do Fernandinho, filho do Sr. Alípio. Aquele andava sempre bem vestido, com uns sapatos de verniz e respondia sempre afirmativamente a tudo o que o o prior dizia e recomendava.

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